sexta-feira, 11 de maio de 2012

Entrevista com Gilberto Palmares


GILBERTO PERFIL2. FOTO RAFAEL WALLACE
A entrevista* com o deputado estadual Gilberto Palmares dá continuidade a série que o site do Diretório Estadual passou a publicar em abril. A intenção do presidente Jorge Florêncio é a de interagir com os parlamentares, secretários municipais e estaduais, bem como prefeitos e vereadores do Partido dos Trabalhadores, que usando este espaço, poderão discutir de forma democrática o PT no estado do Rio de Janeiro.
As idéias e opiniões expressas na entrevista são de exclusiva responsabilidade do entrevistado, não refletindo, necessariamente, as opiniões da direção do Diretório Estadual do PT. A seguir a entrevista.



 1 – O senhor iniciou sua trajetória política no movimento sindical. Como parlamentar está em seu terceiro mandato na Alerj. Sua bandeira, nessa última legislatura, tem sido o transporte. Como avalia a questão do transporte no estado do Rio?
Gilberto Palmares - A pesquisa do IBGE, sobre tempo de deslocamento da população, comprova o que temos dito há vários anos: o transporte público no Rio é ruim, caro e inseguro para boa parcela da população, inclusive no que se refere à acessibilidade de portadores de necessidades especiais como idosos, grávidas e portadores de deficiência. Os trabalhadores são os principais prejudicados, obrigados a enfrentar trânsito ruim, aperto, calor, atrasos e, infelizmente, acidentes e incidentes no deslocamento diário de casa para o trabalho e vice-versa. O grande problema é que o principal meio de transporte no Rio é o ônibus, modelo que está ultrapassado nos grandes centros urbanos. É preciso investir em transporte de massa, como trens, metrô e, no caso, do Rio, barcas. Quem mora na Zona Oeste, na Baixada Fluminense, em São Gonçalo, enfrenta verdadeira maratona para se deslocar. As empresas desrespeitam o Bilhete Único, que foi um acerto no que se refere a facilitar a mobilidade urbana, e prejudicam idosos e estudantes. Um verdadeiro absurdo.
Lamentavelmente, a privatização dos transportes - que combatemos desde a primeira hora – só agravou o que já era ruim.

2- Em março o senhor defendeu a candidatura própria do PT nas eleições para a prefeitura de São Gonçalo em 2012. Sua chapa conseguiu 40% dos votos. As outras seis defendiam as alianças. Juntas somaram 60% do pleito e venceram as prévias. Em face desse resultado, como passou a ser a sua atuação política em são Gonçalo?
 Gilberto Palmares - A minha atuação política em São Gonçalo não começou com a questão da candidatura própria. Há anos meu mandato tem dado atenção especial ao município, seja na questão dos transportes com a nossa eterna briga pela construção da estação de barcas em São Gonçalo; seja na questão da saúde e da educação, quando conseguimos recursos do Orçamento do Estado para a aquisição de equipamentos de alta complexidade para o hospital infantil da cidade e para a instalação de laboratórios de informática nas escolas. Essa atuação vai continuar, apesar dos resultados do encontro do PT que, na nossa avaliação foi bom por vários motivos. O primeiro deles é que conseguimos mobilizar a militância, que se empenhou a favor da candidatura própria e levou as outras chapas a também se movimentarem. Isso deu novo fôlego ao PT de São Gonçalo e é com esse fôlego renovado que vamos trabalhar.

3 – O que o senhor pensa sobre as candidaturas próprias do PT para a viabilização do partido nas eleições estaduais de 2014?
Gilberto Palmares - Eu não sou contra a política de aliança, acho que ela é necessária e a vitória de Lula e Dilma é uma prova disso. Mas se o PT quer crescer, se quer ampliar suas bancadas estadual e municipais, se quer assumir o Poder Executivo estadual tem que ter candidatura própria em municípios estratégicos. O Rio de Janeiro precisa do modo petista de governar e é preciso construir um caminho para isso. Temos que equilibrar a política de aliança com candidaturas próprias que, eleitas, possam fortalecer o partido nas bases, criando condições para uma vitória futura.

4 – Como avalia a aliança do PT com o PMDB na eleição para prefeito do Rio de Janeiro?
Gilberto Palmares - Esta é uma aliança que eu considero acertada, tendo em vista não só a política nacional, mas a própria política municipal. Agora, não sou nem nunca fui a favor da aliança pela aliança. O PT tem que apresentar um programa de governo, tem que apresentar suas bandeiras históricas como a do orçamento participativo, tem que assegurar que propostas dos movimentos sociais sejam levadas em consideração. Aliança, sim, mas sem descaracterizar aquilo que construímos e que nos levou à presidência da República: nosso compromisso com a transparência, com a melhoria da qualidade de vida das camadas mais carentes da população, a garantia da participação popular nas políticas públicas.

5 – Um projeto de sua autoria prevê a criação da Comissão Estadual da Verdade. Foi o governo do PT que criou a Comissão Nacional da Verdade. Qual a necessidade de viabilizar uma comissão estadual?
Gilberto Palmares - O Rio de Janeiro foi um dos estados onde a repressão foi mais violenta. Aqui funcionaram centros de tortura onde militantes foram barbaramente torturados e assassinados. Dezenas de estudantes, sindicalistas, militantes e dirigentes partidários foram presos e hoje integram a lista dos desaparecidos. Nós não podemos jogar essa história pra baixo do tapete. É preciso resgatar a verdade, não só como forma de respeito à memória desses lutadores da democracia, mas para a própria consolidação da democracia. Nossa intenção é contribuir.

6 – O senhor apresentou uma proposta de emenda a Constituição Estadual, incluindo no Artigo III (Ninguém será discriminado por raça, credo, gênero), o termo orientação sexual. A proposta acabou não sendo aprovada e o senhor foi muito atacado por seus pares e fora do parlamento também. Fale sobre isso.
 Gilberto Palmares - Eu sou, por principio, contra qualquer tipo de discriminação. Não é tolerável que alguém seja até agredido por causa de sua orientação sexual. Quando apresentei a emenda, atendi a um pedido de setores do movimento LGBTT, pedido que considerei justíssimo. Infelizmente, essa parcela da população enfrenta preconceito ainda maior que outros setores marginalizados. A proposta foi rejeitada, mas toda luta é assim: há momentos de derrota e há momentos de vitória, Na atual correlação de forças na Alerj, perdemos. É uma luta dura e contínua.

7 – O senhor foi o primeiro presidente do Diretório Estadual do PT eleito pelo voto direto. Como vê o Processo de Eleição Direta (PED) desde a sua eleição, em 2001?
Gilberto Palmares - O PT sempre foi um partido de vanguarda. Além de ser o primeiro partido a eleger suas direções, em todas as instâncias, pelo voto direto dos filiados; foi o primeiro a estabelecer cotas para as mulheres e, no último congresso, inovou mais uma vez ao aprovar o aumento das cotas para 50%. Ainda hoje é o único partido a manter eleições diretas.
Eu tenho muito orgulho de ter sido o primeiro eleito por esse processo extremamente democrático, de ter contado com o apoio da militância e, durante todo o período em que estive à frente da presidência estadual do PT procurei honrar com a confiança dos militantes, dar voz às bases e ampliar a participação dos companheiros do interior.
A primeira eleição ocorreu há dez anos e é natural que um processo longo sempre precise de mudanças. Mas eu continuo considerando que a participação direta do filiado, do militante, só contribui para a democracia.

*As próximas entrevistas serão publicadas na medida em que a Secretaria de Comunicação receber as fotos e as respostas das perguntas, previamente, enviadas.

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